31 julho 2006

Chá para os fantasmas

Você sabe que a velhice está chegando quando começa realmente a se preocupar com queda de cabelos, ou quando percebe que se tornou um clone mal-feito de tudo o que você não gostava em seu pai.

Constatação

É, realmente, a humildade relativa do ar em Brasília é a mais baixa do país mesmo.

27 julho 2006

Parola zitta

- Não sei se ela que mudou, ou se fui eu que só percebi agora que sempre foi assim.

25 julho 2006

Animal Futebol 3

Para uma seleção que apresentou um futebol mínimo, ter o Dunga como técnico até que é um avanço.

19 julho 2006

Office talks

Dentre as vicissitudes corporativas, a exacerbada anglofonia é a que mais lamento. Não sou um purista do português, e acho lógico que os jargões do ambiente de negócios sigam a língua da nação que domina o setor. E, convenhamos, nosso português brasileiro não deixa de ser uma corruptela do português de Portugal, que é uma corruptela do latim. Coincidentemente o latim era a língua de Roma, os EUA de dois mil anos atrás. Ou seja, nosso português hoje é o broken english de amanhã.
Digressões à parte, o excesso de expressões anglófonas que são chiques de serem ditas em uma reunião de negócios demonstra não só a falta de classe de nossa elite corporativa, mas também a baixo domínio da língua nativa que esta apresenta. Ok, esse problema não é só nosso, reconheço. Mas não deixo de enjoar ao ouvir um jovem “cabeça-de-planilha” (essa definição é do Nassif) apresentar work plans e chart flows nos business meetings por aí. Há expressões em inglês que não têm correlatas em português, como dumping. Ainda há outras que já foram inclusive dicionarizadas por aqui, como no caso de estartar e deletar. O fato é que é de bom tom, ou ao menos comum, “gastar” inglês em eventos corporativos. Feedbacks, outsources, building leadership e congêneres tendem a crescer e multiplicar. Então só me restam duas alternatives: ganhar a vida na flauta, ou morar numa ilha. Acho que vou ficar com as duas, definitively.

By the way, a ironia destas palavras desnecessárias é o mais interessante dessa história. Expressões inverídicas ou impossíveis são os exemplos clássicos, como por exemplo feedback positivo. Isso não existe. Existe sim o elogio, que é feito na frente de todo mundo. Quando o chefe te chama no cantinho, isso não é feedback, é fodback.

18 julho 2006

Cidade Encruzilhada

Sentados na beira do morro, não paravam de planejar o futuro com suas canções.

10 julho 2006

Os livros não são sinceros

Filosofando em vão, brisei em encontrar o problema do mundo. Descrobrir a sistemátiva do desencanto, algo empírico e transferível. Porque a desilusão é sensível, mas não é sensata. Em termos materiais e humanísticos estamos melhor que há três séculos, por exemplo. Considerando-se que este "progresso" seja evidente, ao menos se colocado em perspectiva histórica, qual seria a origem do desconforto? Porque tantas pessoas frustradas, tantos achando que deveriam estar em outro lugar?
Voltando às seis da tarde em um ônibus lotado, tentava pescar algum daqueles sonos que duram até a minha estação. Fui atrapalhado por freadas e solavancos insistentes e pela conversa de duas moças ao meu lado. Não vi a cara delas, mas sei tudo sobre a proposta de emprego de uma das duas, que pareciam ser advogadas. Principalmente as vantagens financeiras do novo emprego, e o quanto ela ganharia a mais. Automaticamente pensei nas minhas contas, e no quanto eu precisaria ganhar a mais para fazer tudo o que quero. Neste instante, entre devaneios financeiros e a vontade de dormir, descobri: Retiraram a maravilha do mundo! O dinheiro passou a ser o grande catalizador de vontades, o grande motor da existência. Monetarizaram o sonho. Monetarizaram meu sono.
Não se vive mais por viver, por aproveitar a experiência única de fruir a existência dotado de uma certa racionalidade, temperada com algo de místico e um pouco de arte. Monetarizaram a arte. Precificaram os mitos. Precificamos nossos mitos. Nossa felicidade é um crediário nas casas Bahia, ou qualquer outra equivalente. Nossos sonhos têm valor definido, prazo, e se marcar, até fiador. Só seremos completos quando tivermos isso isso e aquilo, quando ganharmos tanto, quando pudermos viajar para tal lugar, e quando atingirmos o patamar x,y ou z.
A vida não é mais uma experiência por si. Somos um improbabilidade matemática, um casual grão de areia na poeira cósmica e infinita do universo. Mas não nos maravilhemos com os fatos. Não fiquemos pasmados por saber que, na real, ninguém tem a mínima idéia do que estamos fazendo aqui, além de morrer um pouco desde o dia que nascemos. Isso não importa. O que importa é que talvez possamos pagar no crediário em seis vezes sem juros, com desconto em folha, um beija-flor de entrada, e a prímeira parcela só no ano que vem.

08 julho 2006

Manifesto dos Orgasmos

Não traduzi o texto em francês do conto anterior por capenguice de minha francofonia, não por esnobismo. Como alguns já sabem, sou radicalmente autoral, daqueles que prefere o Chico cantando todas as suas músicas, inclusive as de mulher. Traduções, versões, ou a canalhice moderna de "dar uma nova roupagem" não mudam o fato que traduzir é interpretar, se colocar ao lado do autor, que é deus em sua obra. Portanto, por humilde subserviência teológica, leio sempre que posso no original, e nunca traduzo.

Mas, enfim, este blog é um espaço democrático, e a tradução do AltaVista é realmente uma droga. Tudo isso para dizer que a crítica é válida, e segue uma versão livre do manifesto anteriormente mencionado, ressalvando-se que há perda de qualidade:

Orgasmos

Por mais estranho que isso possa parecer o sexo não é percebido da mesma maneira pelos homens e pelas mulheres. Vocês me dirão que isso parece uma teoria bernardhenrilevyziana: este argumento é tão original quanto uma imitação de Patrick Sébastien. Pode ser, mas eu aponto o inimigo:

EU ACUSO O ORGASMO MÚLTIPLO DE SER A ORIGEM DA OPINIÃO NEGATIVA QUE AS MULHERES TÊM DA SEXUALIDADE MASCULINA.

Se para elas nós não somos mais que animais que não pensam em nada além de fornicar em posições que só um espírito perverso pode elaborar, o que elas não conseguem entender é nossa diferença natural ante à capacidade delas de gozar várias vezes sem mesmo parar para respirar (algumas chegam a bater no seu parceiro para evitar um curto-circuito neural após cinco minutos de orgasmo ininterrupto).

E sim madames, em um mês de atividades sexuais vocês podem acumular tantos orgasmos quanto nós em um ano... Sem se esquecer que durante o intercurso amoroso vocês saltam de orgasmo em orgasmo enquanto nós, sofredores, não pensamos em nada mais além de atrasar o inevitável, pois não há segunda chance.

Então para punir todos estes privilégios do prazer, adotemos a ejaculação precoce! Elas rirão menos!!! ah! ah! ah! Vamos frustrá-las!!! Antecipar as danações do orgasmo!

07 julho 2006

Manifeste des Petites Morts

Que o desejo não seja um crime, e que a vontade seja o motor. Que a sede seja de corpos e o champagne sabor de pele. Que a música seja Ella, e o que o depois seja no Tom. Que os pés sejam pequenos e valsem juntos. Que as vitórias sejam efêmeras e as mortes, suaves. Que as mordidas sejam na orelha, e as carícias, interemináveis. Que a chama chame o imortal, posto que é chama, mas que seja eterno enquanto duro.


PS: Não costumo citar nem copiar neste blog, mas encontrei casualmente um texto sobre a mesma temática, portanto, segue:


Petites morts

Aussi étrange que cela puisse paraître le sexe n’est pas du tout perçu de la même manière chez les hommes et chez les femmes. Vous allez me dire que cela ressemble à une théorie bernardhenrilevyzienne : c’est plat et aussi original qu’une imitation de Patrick Sébastien. Peut-être mais moi, je désigne l’ennemi :

J’ACCUSE L’ORGASME MULTIPLE D’ETRE LA CAUSE DE L’OPINION NEGATIVE QU’ONT LES FEMMES DE LA SEXUALITE MASCULINE.

Si pour elles, nous ne sommes que des bêtes ne pensant qu’à forniquer dans des positions que seul un esprit pervers peut élaborer, c’est qu’elles ne comprennent pas notre inégalité naturelle face à leurs capacités à connaître la petite mort plusieurs fois de suite sans reprendre leur respiration (parfois même certaines frappent leur partenaire pour éviter le court circuit neuronal après cinq minutes d’orgasme en apnée).

Et oui mesdames, en un mois de rapports sexuels vous pouvez cumuler autant d’orgasmes que nous en une année... Sans oublier que durant le transport amoureux vous sautez d’orgasmes en orgasmes pendant que nous, souffrants sur l’ouvrage, nous ne pensons qu’à retarder l’inévitable car il n’y a pas de seconde chance.

Donc pour punir toutes ces privilégiées de la jouissance, adoptons l’éjaculation précose ! Elles rigolerons moins !!! ah !ah !ah ! Frustrons les !!! En avant les damnés de l’orgasme !

fonte: http://etmerde.atomysk.com/spip.php?article7

06 julho 2006

Better not to mix

Viver é caminhar no deserto de areia de uma ampulheta.

05 julho 2006

Vite vie

O que move os sonhos? Quais os sonhos que te movem? Para onde olham os bebês e as pessoas com olhar perdido em ônibus? Sempre me intriguei de corpo e alma com aqueles que riem sozinhos na rua. Conta pra mim também! Felicidade só é óbvia para as crianças. E olhe lá! Aos adultos, as batatas. Barganhando misérias entranhadas no porvir de cada dia. Quem disse que somos melhores quando sérios? O que nos move nos sonhos?