21 junho 2007

Naif

No jantar de uma família espírita, Juninho, 6 anos, emburrado por não poder mais assistir desenhos animados, lança, no meio da discussão, a clássica:
- Eu não pedi para nascer!
O pai, sereno, explica:
- Não só pediu para nascer, como escolheu essa família.
Juninho pensa um pouco, e arremata:
- Então eu devia ser o último da fila!

15 junho 2007

Reveille-matin

Sinto o farfalhar lento de seus cabelos em meu peito, sua respiração leve de sono de criança. Aguardo seu acordar suave, ouço indistintamente sons de seus sonhos. Roubo em silêncio seu lençol, para admirar, de canto dos olhos, seu corpo moreno. Desligo o telefone, ignoro os jornais, peço pudor aos passarinhos. Adormecida, a bela só pode se levantar com beijos. Assustada, pensa estar atrasada para o trabalho, e se arruma rápido, enquanto mergulho em seu travesseiro, e não aviso que é domingo.

14 junho 2007

F comme Femme

Três considerações sobre o tema:

- Mesmo nuas, as mulheres jamais estão despidas de seus segredos.

- Um milhão de propósitos em um só ser.

- Nunca, eu disse NUNCA duvide de uma mulher com um motivo.

05 junho 2007

Coletiva Terra

Gosto da escrita tímida, poesia recolhida e discreta. Aos adolescentes e escritores falidos a pose para escrever, no meio de festas, ou num café com chapéu de tafetá. Prefiro o anônimo, sacar sutilmente um caderno de notas e pinçar frases soltas para este solilóquio espaço. Imagem não é nada se não imaginada. Fotos de felicidade falsa figurando no orkut fazem pouco sentido. A crise da pós-modernidade nunca foi de forma, mas sim de conteúdo. A forma é basicamente a mesma desde os gregos. O recheio da matéria, espírito, idéias, leis ou lingüiças é que desafia. Não posso ser definido em uma frase, e ainda que o fosse, não seria definitiva. A escrita é para poucos, miolo que palpita em peito escancarado. Não sou o que como, assisto, leio, pratico, ouço. Sou isso mais acima de tudo, escrevo. Tímido, recolhido e discreto, caneta tinta e papel meio ao mar. Pouco importa se não me ouvem, para as pedras o apanhador é indiferente. E se o comentário é o aplauso do blogue, vou de Newton, falando às salas vazias, grão de areia pregando ao deserto. Meu registrar impreciso não precisa de adições, é aditivo por si. Escrevo pelo vício de atirar ao espelho cacos de meus reflexos. Espero em troca, angústia do desconhecido, um pouco de melancolia, e silêncio. Não dou mais rasteiras desde que aprendi a apanhar. Aguardo dias de sol que derretem neve, comemoro pequenas vitórias. Respiro fundo depois da chuva, procuro estrelas em poças d'água. Viver é igual a escrever, começa em você e pára no mundo.