Gosto da escrita tímida, poesia recolhida e discreta. Aos adolescentes e escritores falidos a pose para escrever, no meio de festas, ou num café com chapéu de tafetá. Prefiro o anônimo, sacar sutilmente um caderno de notas e pinçar frases soltas para este solilóquio espaço. Imagem não é nada se não imaginada. Fotos de felicidade falsa figurando no orkut fazem pouco sentido. A crise da pós-modernidade nunca foi de forma, mas sim de conteúdo. A forma é basicamente a mesma desde os gregos. O recheio da matéria, espírito, idéias, leis ou lingüiças é que desafia. Não posso ser definido em uma frase, e ainda que o fosse, não seria definitiva. A escrita é para poucos, miolo que palpita em peito escancarado. Não sou o que como, assisto, leio, pratico, ouço. Sou isso mais acima de tudo, escrevo. Tímido, recolhido e discreto, caneta tinta e papel meio ao mar. Pouco importa se não me ouvem, para as pedras o apanhador é indiferente. E se o comentário é o aplauso do blogue, vou de Newton, falando às salas vazias, grão de areia pregando ao deserto. Meu registrar impreciso não precisa de adições, é aditivo por si. Escrevo pelo vício de atirar ao espelho cacos de meus reflexos. Espero em troca, angústia do desconhecido, um pouco de melancolia, e silêncio. Não dou mais rasteiras desde que aprendi a apanhar. Aguardo dias de sol que derretem neve, comemoro pequenas vitórias. Respiro fundo depois da chuva, procuro estrelas em poças d'água. Viver é igual a escrever, começa em você e pára no mundo.