Os livros não são sinceros
Filosofando em vão, brisei em encontrar o problema do mundo. Descrobrir a sistemátiva do desencanto, algo empírico e transferível. Porque a desilusão é sensível, mas não é sensata. Em termos materiais e humanísticos estamos melhor que há três séculos, por exemplo. Considerando-se que este "progresso" seja evidente, ao menos se colocado em perspectiva histórica, qual seria a origem do desconforto? Porque tantas pessoas frustradas, tantos achando que deveriam estar em outro lugar?
Voltando às seis da tarde em um ônibus lotado, tentava pescar algum daqueles sonos que duram até a minha estação. Fui atrapalhado por freadas e solavancos insistentes e pela conversa de duas moças ao meu lado. Não vi a cara delas, mas sei tudo sobre a proposta de emprego de uma das duas, que pareciam ser advogadas. Principalmente as vantagens financeiras do novo emprego, e o quanto ela ganharia a mais. Automaticamente pensei nas minhas contas, e no quanto eu precisaria ganhar a mais para fazer tudo o que quero. Neste instante, entre devaneios financeiros e a vontade de dormir, descobri: Retiraram a maravilha do mundo! O dinheiro passou a ser o grande catalizador de vontades, o grande motor da existência. Monetarizaram o sonho. Monetarizaram meu sono.
Não se vive mais por viver, por aproveitar a experiência única de fruir a existência dotado de uma certa racionalidade, temperada com algo de místico e um pouco de arte. Monetarizaram a arte. Precificaram os mitos. Precificamos nossos mitos. Nossa felicidade é um crediário nas casas Bahia, ou qualquer outra equivalente. Nossos sonhos têm valor definido, prazo, e se marcar, até fiador. Só seremos completos quando tivermos isso isso e aquilo, quando ganharmos tanto, quando pudermos viajar para tal lugar, e quando atingirmos o patamar x,y ou z.
A vida não é mais uma experiência por si. Somos um improbabilidade matemática, um casual grão de areia na poeira cósmica e infinita do universo. Mas não nos maravilhemos com os fatos. Não fiquemos pasmados por saber que, na real, ninguém tem a mínima idéia do que estamos fazendo aqui, além de morrer um pouco desde o dia que nascemos. Isso não importa. O que importa é que talvez possamos pagar no crediário em seis vezes sem juros, com desconto em folha, um beija-flor de entrada, e a prímeira parcela só no ano que vem.
Voltando às seis da tarde em um ônibus lotado, tentava pescar algum daqueles sonos que duram até a minha estação. Fui atrapalhado por freadas e solavancos insistentes e pela conversa de duas moças ao meu lado. Não vi a cara delas, mas sei tudo sobre a proposta de emprego de uma das duas, que pareciam ser advogadas. Principalmente as vantagens financeiras do novo emprego, e o quanto ela ganharia a mais. Automaticamente pensei nas minhas contas, e no quanto eu precisaria ganhar a mais para fazer tudo o que quero. Neste instante, entre devaneios financeiros e a vontade de dormir, descobri: Retiraram a maravilha do mundo! O dinheiro passou a ser o grande catalizador de vontades, o grande motor da existência. Monetarizaram o sonho. Monetarizaram meu sono.
Não se vive mais por viver, por aproveitar a experiência única de fruir a existência dotado de uma certa racionalidade, temperada com algo de místico e um pouco de arte. Monetarizaram a arte. Precificaram os mitos. Precificamos nossos mitos. Nossa felicidade é um crediário nas casas Bahia, ou qualquer outra equivalente. Nossos sonhos têm valor definido, prazo, e se marcar, até fiador. Só seremos completos quando tivermos isso isso e aquilo, quando ganharmos tanto, quando pudermos viajar para tal lugar, e quando atingirmos o patamar x,y ou z.
A vida não é mais uma experiência por si. Somos um improbabilidade matemática, um casual grão de areia na poeira cósmica e infinita do universo. Mas não nos maravilhemos com os fatos. Não fiquemos pasmados por saber que, na real, ninguém tem a mínima idéia do que estamos fazendo aqui, além de morrer um pouco desde o dia que nascemos. Isso não importa. O que importa é que talvez possamos pagar no crediário em seis vezes sem juros, com desconto em folha, um beija-flor de entrada, e a prímeira parcela só no ano que vem.
8 Comments:
"O dinheiro passou a ser o grande catalizador de vontades".
PASSOU a ser ou SEMPRE FOI? Que romantismo é esse, Sr. Vizionário?
Vai dizer que continua praticando o senso crítico, mantendo a integridade e a ética, querendo mudar o mundo?
"Monetarizaram o sonho. Monetarizaram meu sono". Pois então eu te digo: não o meu! Por enquanto..
Passou a ser, se considerarmos que estou colocando tudo em perspectiva histórica. O dinheiro não existiu sempre. E quando não existia, algo deveria preencher este vazio, ou seja, catalizar vontades. O que era então? Em um contexto em que o dinheiro não existia, será que não havia mais espaço para o maravilhoso, para o maravilhar-se? E nem precisamos ir tão longe, peguemos o exemplo, sempre à mão, da infância. Quando somos crianças é o dinheiro que cataliza nossas vontades? Acho que a resposta é não. Por isso escrevi que monetarizaram o sonho. Existe algum espaço, algum intervalo de tempo que é válido tanto para o exemplo da infância, quanto para a sociedade, em que o maravilhar-se, com todas suas possibilidades, se reduz ao dinheiro, ao quanto.
Você pode dizer que sou romântico, sonhador.... but I'm not the only one.
E você pode dizer que sou imoral, devassa, sem-vergonha.
But I'm not the only one..!
heheheh!
monetarizaram meu sonho sim. E descobri isso quando o encontrei, por acidente, na estante "Leve cinco pague um" da lojinha de 1,99 que tem aqui perto.
Sei lá, meu... O resto é pretensão!
Eu monetarizei meu sonho...quando decidi não frequentar o curso de arte porque "não dá dinheiro", eu monetarizei meu valor quando achei q era menos porque não tinha carro ou casa própria...
Eu monetarizei minha visão da beleza...quando cheguei a conclusão que deveria fazer uma alterar todas as minhas formas e estruturas pra poder ser amada..
Pior é saber que eu mesma fiz isso comigo...
Eu não monetarizei nada. Mas já escrevi qualquer coisa sobre isso, e da próxima vez vou cobrar royalties.
Linda essa sua alma romântica e sonhadora!
Será que existe esperança de que essa monetarização não nos vicie, que um dia a nossa vida nao gire em torno de ganhar cada vez mais e que o dinheiro seja apenas um mal necessário que nos permita viver enquanto realizamos nossos sonhos? Se a resposta for não, por favor não me conte. Eu ainda nao desisti desse sonho.
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