11 dezembro 2007

A Solidão e a Cidade

Começo este texto com um assassinato. Estou oficialmente matando o título de um romance que pretendia escrever um dia, mesmo que não seja nem original, nem meu este título. Chegou o tempo de encarar os fatos, não iria escrevê-lo mesmo. De qualquer modo acho que tudo o que diria cabe em poucas linhas neste espaço. Talvez não, talvez este romance fosse maior que tudo o que se esconde por trás de milhões de páginas da internet. O cigarro apagou. Reascendo, como as fumaças que sobem sobre meus olhos, tomo mais um gole de cerveja, e espero fazer efeito. No escuro, que também espero fazer efeito. Gosto de chegar em casa, quando sozinho, e não acender nenhuma luz, curtir o breu. O breu insinua, antes de revelar, como as mulheres de Almodóvar. Um pouco exageradas, concordo. Mas uma mulher que não exagera é apenas uma fêmea. Transformar erros em charme, meu caro Wilde, é somente para as que transcendem, naturalmente. O som do Sa Grama também transcende, merecia algo em vinil. Um Brasil elegante, um Brasil deflagrante, um Brasil do Norte. Som descritivo, para escrever. Tentar experiências novas, o texto que há tempos gesto. Ainda não tinha a Cidade cravada na carne o suficiente para deitar em palavras, e tampouco me charlava a Solidão. Fosse na Província, e teria resolvido tudo rapidamente hoje, sem pressa ou desespero, com dois telefonemas. Amigos que fazem alguma diferença sempre sabem acolher os insólitos, por semelhança ou caridade. Mais um gole de cerveja, parece que aumenta o calor. Solidão a dois é menos solidão? Gosto de contraposições de idéias, de corpos, copos e esperanças. No fundo é isso, a ressaca da alma. A promessa de que algo vai mudar radicalmente amanhã. Faríamos hinos para celebrar, canções que eternizam. Na volta para casa um leve lampejo, sozinho no carro. Mas já seria tarde para algo dramático, o sono imperaria, inapelavelmente. Mas aqui, na Cidade, os recursos são muitos e as alternativas raras. A Solidão é maior quanto maior a vontade de se estar com alguém. Mas isso tornaria impossível sentir-se assim na multidão, o que, convenhamos, acontece. Saí sozinho nos dois dias do final de semana e até que me sou uma boa companhia. A noite conheci uma guria que eu já conhecia, eu acho, me lembrou de Dama da Noite, do Caio Fernando Abreu, que, descobri, já teve uma porrada de montagens país afora. Nenhuma com nossa sonoplastia. Talvez a música fluísse mais na Província. A Cidade não é muito musical. Na volta a pé para casa o primeiro gole de cerveja, ao som de Estación Esperanza, dos venezuelanos do Mixtura. A música que me apareceu quando precisava ouví-la. As músicas, assim como as pessoas, acontecem na nossa vida, ao que tudo indica, seguindo uma lógica escalafobética. Há um tiozinho sentado em uma cadeira na calçada, na frente de sua casa funda, com luz amarela. Maneira brasileira de se refrescar ou tédio pós-trabalho? Estamos todos no mesmo barco, e la nave va. Deixo a música fazer efeito. Lembrei do Morrisey, dizendo que suas músicas não eram melancólicas, contra todas as opiniões alheias. A idéia pesava em meus ombros, mas não pedi menos peso, e sim ombros mais fortes. Matei um romance. Mais três cervejas antes de chegar em casa. Dois cigarros para chegar aqui no texto. Duvido que alguém vá ler até o final, mas não importa, ele, como esse universo criado da espera, já terá cumprido seu papel, me apresentando a Companhia. Quem sabe o tema do meu próximo romance?

04 dezembro 2007

Ligações Perdidas

- Uma chamada não atendida acabou com meu domingo...

A festa do cabelo no ralo

Três mulheres na minha casa.