19 abril 2011

The comeback kid

Mudo de faixas como se mudam opiniões em talk-shows. Freneticamente. A irritação com o trânsito já explodiu em indiferença, e o andamento desequilibra. Começo a prestar atenção a relevâncias, vejo como a trilha sonora muda a cara de um dia de chuva que amanheceu tarde. Desacelero.

Em algum lugar li que neste exato instante sete milhões de pessoas no mundo estão tendo um orgasmo. E eu pensando como é que se calculam coisas deste tipo. Ou porque na história os sapateiros têm fama de anarquistas. Relevâncias.

Daqui a pouco vou ter que dar um tapa na louça acumulada, mas começo a repensar esta expressão. Mastigo um texto antigo, faço um café aguado, para o tranco. Pela primeira vez em meses tenho vontade de escrever. Sim, estamos sozinhos na jornada, mas hemos de contá-la, de cantá-la, la la ra la ra la ra.

Troco pela segunda vez a camisa encharcada de suor, dou piscadas de dez minutos. Faz tempo que o tempo é relativo, e há sete milhões de coisas diferentes que eu poderia estar fazendo em outras dimensões, neste exato instante. O café conseguiu ficar forte e aguado ao mesmo tempo. Enxugo gotas em minha testa, e vou até a varanda soprar sombras e olhar para o céu.

Porque é janeiro, e a chuva não vai deixar este calor impune.