28 novembro 2006

Legionários

Escrevo músicas sobre as mazelas da vida. Não tive escolha. Nasci no lado dos que tem duas mãos e o sentimento do mundo. Mãos invisíveis e realidades mitológicas não me fazem sentido. Estou com muitos e meu exército é de ferro de Itabira. Cazuza, Russo e Dylan estão comigo, e marchamos, olhar de Che pro horizonte, passos largos, motores de sonhos. Nossa armada atira flores de plástico que morrem. Rimos do perigo, criamos ilusões, choramos da vida. Sim, viver é bom nas curvas da estrada, mas o resto é mentira.

27 novembro 2006

Procurando rostos no desembarque

Para aqueles que vivem sozinhos, difícil não é partir, mas chegar.

22 novembro 2006

Gitana

Dois filhos de Netuno, sentados no mesmo banco, dos mesmos carros, de todas as épocas idas, se encontravam, mais uma vez:
- O legal dos piscianos é que você não precisa explicar o porquê da viagem. Quando você vai ver, eles já estão lá, de malas prontas, apressando a partida.
Ela responde, um tanto escaldada pelas muitas coincidências do zodíaco:
- É, mas cuidados com os aquarianos. Eles são os que fingem estar lá. Mas ficam no mesmo lugar. Sempre.

14 novembro 2006

El mago de ojos tristes

Já foi tema de crônicas diversas, mas retomo, entretanto. Os apelidos no futebol. Estranhamente os brasileiros, tidos como altamente criativos, deixamos de nos referir aos nossos jogadores por apelidos. Pelé, Tostão, Garrincha, Diamante Negro, Caju, enfim, uma série de jogadores eram (e ficaram) conhecidos por seus apelidos, das mais diferentes orígens. Os apelidos começaram a sumir lentamente. Foram substituídos primeiramente por adjetivos pátrios como Baiano, Paulista, Pernambucano. Vem o primeiro nome, e na sequencia uma referência ao seu estado natal (ou nem isso, porque o Mineiro - atualmente o melhor volante do mundo - na verdade é gaúcho). Há inclusive o peculiar caso dos júnior. Há um para cada adjetivo pátrio anteriormente citado: (Júnior) Baiano, (Juninho) Paulista, e (Juninho) Pernambucano.
Depois dos adjetivos pátrios, veio a onda dos nomes compostos ou completos, com sobrenome: Mauro Silva, Diego Tardelli, Fábio Rochemback. E por último entrou, bisonhamente, a númerologia, determinando quantos enes e erres dobrados tem que ter o nome "de guerra" do jogador. O fato é que o apelido dá outra dimensão ao craque, e cria uma intimidade maior do que o banal nome-e-sobrenome, para ficar só nesta categoria. Imagine se o Pelé não se chamasse Pelé, e sim Edson Arantes... Faça o teste, e narre um golaço gritando efusivamente "Gooool... É do Edson Arantes....!!". Chega a soar ridículo. Não há como gritar com vontade.
Já nossos hermanos espanófonos são craques em dar apelidos. Talvez pela proximidade que o apelido indique, por se tratar, em último caso, de uma maneira mais carinhosa de se referir ao jogador, ou por qualquer outro motivo, o que interessa é que para eles o apelido não morreu. Enquanto alguns aqui tentam chamar o Ronaldo pelo estranho sobrenome "Nazário", para não confundir com o Ronaldinho (Gaúcho), na Espanha ele ficou inicialmente conhecido como "fenômeno", e atualmente é "el gordo", por razões óbvias. Devido ao seu grande porte físico, Júlio Batista é "la bestia", e Bebeto era conhecido no La Coruña por aquele que considero o apelido mais legal de todos os tempos, que combina perfeitamente não só fisicamente, mas com a maneira dele jogar: "El Colibri".
Mas os argentinos parecem ser os especialistas no quesito apelido. Lá quase todos os jogadores de destaque são referenciados pelos apelidos. Carlitos Teves é "el Apache", Mascherano é "el Chefito", Saviola é "el Conejo". A tradição se estende também às torcidas, ou "barras", que se chamam de "bostero" (Boca), "gallina" (River), "funebreros" (Chacarita), "cuervos" (San Lorenzo). Mas de todos daquelas bandas, o melhor apelido é do jogador Juan Riquelme, que é carinhosamente chamado de "el mago de ojos tristes", e mais conhecido por "el mago" simplesmente. Ele foi o camisa 10 da seleção argentina na última copa, o que não é pouco, se considerarmos que foi também a camisa do "el pibe d'or" (o garoto de ouro), ou seja, Maradona. A parte do mago vem dos passes mágicos que Riquelme inventa, da habilidade nos pés e da elegância em tirar jogadas da cartola. Os olhos tristes ficam por conta da aparência mesmo, já que ele tem os olhos um pouco caídos, que lhe dão um ar entristecido. Some-se a isso uma personalidade mais reservada, e tem-se que Riquelme, com seu apelido, é a síntese perfeita entre a percepção e o carinho da torcida, bem como de uma maneira elegante e contida de jogar futebol, característica do que há de melhor na Argentina e que, salvo engano, está morrendo com el mago.

09 novembro 2006

Evidente

Pessoas especiais têm uma lógica diferente.
Estavam em um bar, no quinto chopp, lamentando a recente demissão, de ambos. Ele falava de remorsos e de tudo o que faria para se vingar. Ela olhava o teto, quando irrompeu:
- Ainda bem que eu estava de tênis quando fui demitida.

02 novembro 2006

Lógica

Victoria`s Secret de Baunilha. Conheço muito bem o cheiro desse creme. Quase todas as mulheres de Curitiba usam. Entrei no elevador, reconheci na hora. Uma morena que carregava duas pequenas sacolas. No térreo subiu uma senhora com sua filha de uns 4 anos. Após alguns segundos, e andares, a menininha exclama, um tanto deslumbrada:
- Mãe, a mulher tem cheiro de bolo!