23 julho 2008

Crônicas do Coração da Terra

Na fonte cordiforme a água brotava discretamente por sob o solo, fazendo pequenas bolhas entre meus dedos do pé, semi-enterrados na areia cálida. Na clareira, longe do barulho da cidade, meus pensamentos bóiam acompanhando a folha de nogueira que insistia em não afundar, nunca, nem quando confrontada com as pedrinhas jogadas em cima, para matar o tempo. Na simbologia elementar alquímica-meta-física-astrológica-esotérica a água representa a emoção, o sentimento. A fonte encerra, ao mesmo tempo, um sentimento parado e em movimento, uma dualidade que não poderia ser mais perfeita.

Ali, na clareira, eu estava parado em movimento. Gerando para ser represado, brotando para dissipar.

Emoções paradas não deixam de gerar. Durante muito tempo também represei, esticando até o infinito o limite tênue entre o controle e o transbordar. Durante muito tempo estive como a fonte, escondido em uma clareira perto de tudo, mas longe do mundo. Brotei das entranhas, quieto e independente, impassível mas permeável, recolhido e universal. Parte do ciclo. Mas o ciclo se parte um dia, e por isso, sozinho, eu pedia, em reza e rima: qualquer desanteção, faça não.

15 julho 2008

House

- A pior nora que existe é a noradrenalina, porque ela dá uma tentação na cabeça da gente...

09 julho 2008

Previsão do tempo

Tenho uma frente fria guardada no peito. Periga chover.

02 julho 2008

Sur la finesse

A capacidade de demonstrar elegância só é efetivamente testada em situações adversas, nas quais os falsos se entregam, e só os nobres conseguem ser realmente elegantes.

No dia 16 de março de 1914, madame Henriette Caillaux se dirigiu à redação do jornal Le Figaro, em Paris, para conversar com o diretor do periódico, monsieur Gaston Calmette. Ele havia publicado no jornal algumas cartas com severas acusações difamando o ministro francês das Finanças, Joseph Caillaux, marido de Henriette, e intencionava continuar a publicação.

No encontro, após algumas breves palavras, Henriette sacou um revólver e meteu quatro balaços no peito do jornalista.

Em pouco tempo o escritório de Calmette era invadido por funcionários do jornal, que tentaram acudir o diretor baleado. Este, antes de morrer segundos depois, teria murmurado:

- Peço que me desculpem, não me encontro bem.

Quando os funcionários foram deter Henriette, ela exclamou:

- Não me toquem, eu sou uma dama!


Em tempo: Henriette foi absolvida em um julgamento controverso, no qual seu advogado alegou que o crime não foi premeditado, mas sim fruto de um "reflexo feminino incontrolável". Algum tempo depois, Henriette veio com o marido dar um tempo no Brasil.