Ao cair da tarde a praia já estava completamente lotada, abarrotada de fiéis de todos os tipos, tamanhos e cores aguardando em profunda apreensão. Apenas o barulho esparso e constante das ondas quebrando mansas rompia o silêncio pleno da paisagem. O momento mais aguardado enfim começa, e o locutor anuncia no microfone que é chegada a hora do sermão do Grande Profeta. Ao mesmo tempo em que o sol se põe, um senhor esquálido, trajando uma túnica tão branca quanto sua longa barba e cabelo, entra no palco improvisado no topo da montanha, defronte a uma plantação de limoeiros. O Profeta anda devagar, com o auxílio de seu cajado, e se dirige ao microfone. Encara a multidão, aperta os olhos contra o vento na direção do horizonte. Aponta o oceano, e grita:
- Um dia o mar vai virar sertão...
(a multidão em transe repete em coro as sábias palavas do mestre)
- Um dia o mar vai secar, e toda essa imensidão azul vai virar um deserto de sal!
(a multidão se emociona, e reflete sobre o que diz o guru)
- Serão quilômetros e mais quilômetros de sal, montanhas e cordilheiras de sal, vales e abismos de sal, milhões e milhões de toneladas de sal, sal por todos os lados. E quando esse dia chegar....
A multidão delira, e espera longos minutos por mais palavras do Profeta, que irrompe:
- ... a gente vai ter que ter tequila pra caralho!