07 janeiro 2009

Visionários

Ao cair da tarde a praia já estava completamente lotada, abarrotada de fiéis de todos os tipos, tamanhos e cores aguardando em profunda apreensão. Apenas o barulho esparso e constante das ondas quebrando mansas rompia o silêncio pleno da paisagem. O momento mais aguardado enfim começa, e o locutor anuncia no microfone que é chegada a hora do sermão do Grande Profeta. Ao mesmo tempo em que o sol se põe, um senhor esquálido, trajando uma túnica tão branca quanto sua longa barba e cabelo, entra no palco improvisado no topo da montanha, defronte a uma plantação de limoeiros. O Profeta anda devagar, com o auxílio de seu cajado, e se dirige ao microfone. Encara a multidão, aperta os olhos contra o vento na direção do horizonte. Aponta o oceano, e grita:

- Um dia o mar vai virar sertão...

(a multidão em transe repete em coro as sábias palavas do mestre)

- Um dia o mar vai secar, e toda essa imensidão azul vai virar um deserto de sal!

(a multidão se emociona, e reflete sobre o que diz o guru)

- Serão quilômetros e mais quilômetros de sal, montanhas e cordilheiras de sal, vales e abismos de sal, milhões e milhões de toneladas de sal, sal por todos os lados. E quando esse dia chegar....

A multidão delira, e espera longos minutos por mais palavras do Profeta, que irrompe:

- ... a gente vai ter que ter tequila pra caralho!

8 Comments:

Blogger Denise Sammarone said...

Nuooooossa! Muito boa, amore! Tô contigo sempre. Beijocas.

11:55 AM  
Blogger Roger Dörl said...

sabe que você começou batendo na figura dos profetas e eu fui ficando preocupado...

já te desculpei.

1:08 AM  
Anonymous Anônimo said...

O HOMEM QUE OCUPAVA

Não irei plagiá-lo. Ocuparei, resistirei e produzirei neste espaço que você, por meio de uma involuntária e inconfessa expressão pequeno burguesa, chama de seu.
Trata-se, esta minha ocupação, de um ato modelar, que visa a demonstrar que o modo de produção vizionista é excludente, redundante e, nos momentos de crises estruturais, se revela auto-referencial, autopoiético e flatulento.
Alguns podem denominar o sistema viozinista de poesia. Porém, o correto seria relacioná-lo ao resultado de uma complexa rede sócio-histórica que se inicia em uma praia diletante, perpassa uma sala verde e tangencia a apropriação inominada deste mundo que é de loucos.
Assim, opondo-me frontalmente a tais nefastas características e resultados desse modo vizionista de produção, farei do seu espaço de exclusão literária (que ele, por meio de um eufemismo ideológico, denomina de seu espaço de livre expressão) um espaço de resistência dos poetas desvalidos: um espaço em que a palavra não encontra donos, nem grilhões; um espaço coletivo, um espaço para todos, que, eu, como todo bom revolucionário, um dia chamarei de meu e apenas meu!!!

alvaro santos

2:43 AM  
Anonymous Anônimo said...

meu coração chove grosso

meu peito não tem curso

é traineira no oceano

atrás do horizonte sem fim.


alvaro santos

2:46 AM  
Anonymous Anônimo said...

atualize o link do som barato: http://sombarato.org

12:29 AM  
Anonymous Anônimo said...

Mano, belo texto, com uma pitada de humor, o sal da tequila.

8:40 PM  
Anonymous Anônimo said...

Mano, belo texto, com uma pitada de humor, o sal da tequila.

8:40 PM  
Blogger Mariana Sanchez said...

E esse vai ser o título do seu primeiro romance, estou certa disso.
Como vão as muitas vidas em sumpaulo?
Já te falei do programa de rádio, então entra no blog e escuta os podcasts, já que tu tá longe:
www.orelhadolivro.com.br
(ideias - sem acento - são sempre bem-vindas)
beijo!

11:33 PM  

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