06 outubro 2009

Eu ex-machina

Chega uma hora em que o ruído se entranha. Os ombros pesam, e nada mais te emociona. Dinheiro não chega a ser uma solução, mas também não é o problema. São os ossos. Enferrujam.

A rotina aprisiona o alívio, e fora dela você já nem lembra. Os sentimentos viciam, as visões se repetem. Pensar em forma de funções, disso ou daquilo, para chegar ao mesmo resultado.

A liberdade e a escravidão são requintes de abstrações, necessárias, mas com distância. Nada que incomode. Ultrapassar os sinais virou norma, amarelo acelere. Tudo programado.

No intervalo, passava diante de um funeral, todos de preto, sisudos, quando ouviu um comentário sobre o defunto: "Ele não tinha inimigos"...

Instintivamente virou para trás, e sem se dar conta, respondeu:

- Puta cara chato ele devia ser!

Apertou o passo, diante de olhares estarrecidos.

Esse foi seu primeiro pensamento humano.

2 Comments:

Blogger Denise Sammarone said...

Eu diria que a ausência de sentimentos vicia... Quem dera pudesse ser aquela criança espontânea e instintiva de antes.
Que bom que voltou! Beijo.

11:58 AM  
Blogger Roger Dörl said...

gosto. é preciso.

10:45 AM  

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