16 agosto 2006

Falando em livros

Em um dia moroso no escritório, daqueles em que o chefe está viajando e a moçada aproveita para puxar o freio de mão, o papo vai, o papo vem, e a conversa acaba chegando no pior emprego do mundo. No brainstorm cada um foi dando sua versão, sendo que alguns se destacaram como: gandula de pingue-pongue, chapeiro de lanchonete fuleira, manobrista de carrinho de supermercado. A eleição acabou quando alguém sugeriu camareira de motel. Decisão unânime. Hors concours.

Lembrei desta história, verídica, quando procurava alguns livros em sebos de São Paulo. Vi uma mulher chegando com uns sete ou oito livros novos. O livreiro olhou todos e ofereceu 25 reais pelo conjunto. A moça, que parecia já habituada ao procedimento, pediu 30, e acabou ganhando. Ok, nenhum dos livros era realmente interessante, e a jóia da coroa era "A arte da política" do ex-presidente e ex-sociólogo FHC, que, convenhamos, não chega a empolgar. Ademais, é um livro que está sendo distribuido gratuitamete para clientes de uma grande concessionária "Carro do Povo", ou Volkswagen no original em alemão. O que me marcou desta história toda foi pensar que o livreiro vê livros como uma mercadoria qualquer, como uma oportunidade de ganhos. Certo, não sou ingênuo para desconsiderar que o livro, há centênios, é um negócio. Mas ali, vendo na cara, tive pena do livreiro. Ele não vê os ganhos com uma poesia do Quintana, uma análise do Foucault, um conto do Rosa. Ele não vê Diadorim, a rua dos cataventos, uma história da loucura. Ele vê "déizão em cada um e eu ganho quase cem contos".

Camareira de motel é dose. Mas particularmente acho que livreiro é mais torturante.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Você deveria ter contado que a mulher que vendeu os livros era um camareira de motel... e esses eram livros esquecidos por clientes, uma vez que o motel visava atingir principalmente o publico dos "Intelectuais-que-tomam-um-cafezinho-e-dão-uminha-logo-depois"

ia ficar mais divertido do que a tragédia do livreiro.

mas mesmo assim foi ilustrativo

12:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bom, uma pessoa que nunca lê sempre tá perdendo. Gosto tanto de ler o que o Mário Quintana escreveu. :)

9:57 AM  
Blogger insone said...

sempre bla-bla, companheiro...
a ignorância dá braços e pernas aos troncos anencefálicos. sorte deles. azar o onosso.

11:23 AM  

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