25 setembro 2006

Desacontecidos

Ela vai se casar. Não comemorei no bar, mas lembrei da música do Caubi. A dor é relativa, subjetiva, e não sei mais o que. Impressionante nossa capacidade de entender coisas bregas na dor. De um fio de cabelo comprido a um paletó que abraça o vestido. Dois pólos. A mesma dor. Ela vai se casar. Não me mandou nenhuma carta, nenhuma desculpa, nenhum convite. A dor é solitária. Empatia é apenas uma palavra bonita para amigas de bar. Os pequenos passos de tudo que desaconteceu desde então. Não era ontem eu tinha dezoito anos. Ela vai se casar. Eu querendo dizer que ainda moro na mesma rua, que nem gosto mais dela, que vou bem, obrigado. Não perdi o jeito para dançar, mesmo não sabendo. No carnaval mítico dos dias, fantasiei que envelhecia. Ainda moro no mesmo corpo. Encaro a mesma pessoa no espelho, todos os dias de manhã. Todas as manhãs dos dias. Todas as manhas não me livraram. A sagacidade do Pessoa foi a tradução. No original era navigare necesse. Entre o preciso e o necessário há o hiato poético. Ela vai se casar. Será preciso ou necessário? Será tarde? Serei eu tarde? Anoiteço.

3 Comments:

Blogger quê? said...

Acontece.

3:05 AM  
Anonymous Anônimo said...

Surpreendente, teu texto. Tão lindo e identificável. Eu e ela vamos casar, algo preciso e deliciosamente necessário. E não é cedo ou tarde. E não acontece alheio a mim. Encaro a mesma pessoa no espelho, só que com um assombro e uma beleza totalmente novos. Amanheço.

11:00 AM  
Blogger . said...

http://desacontecidos.blog.terra.com.br/

5:05 PM  

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