15 fevereiro 2008

Tempo regulamentar

Estavam a um beijo de mudar tudo. Dois corações pendurados em um fio para o infinito. Naquele instante o mundo parou. Estavam a duas músicas do fim do disco. Um moinho de vento entre dois lábios. O futuro a partir daquele momento. Caminhos e caninos expostos duvidavam até de sorrisos. Estavam a três versos do refrão. Respiração trêmula em olhos inertes. Baterias no eco do peito escuro. Uma ou duas vidas na mente em questão de segundos. Estavam a quatro curvas do destino. Acelerados fluxos de pulsação contínua. O chão rodava sob pés de concreto. O resto do foco era imagem borrada. Estavam a dois palitos do estopim. Quase suores escorriam disfarçadamente pelas mãos. O silêncio grave do vácuo entre os corpos. Sirenes soavam de trilha sonora. Estavam a um beijo de mudar tudo.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"Dai-me, Senhor, assistência técnica para eu falar aos namorados do Brasil.
Será que namorado algum escuta alguém?
Adianta falar a namorados?
E será que tenho coisas a dizer-lhes que eles não saibam, eles que transformam a sabedoria universal em divino esquecimento?
Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa, quando perdem os olhos para toda paisagem , perdem os ouvidos para toda melodia e só vêem, só escutam melodia e paisagem de sua própria fabricação?

Cegos, surdos, mudos - felizes! - são os namorados enquanto namorados. Antes, depois são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.
Mas quem foi namorado sabe que outra vez voltará à sublime invalidez que é signo de perfeição interior.
Namorado é o ser fora do tempo,
fora de obrigação e CPF,
ISS, IFP, PASEP,INPS.

Os códigos, desarmados, retrocedem
de sua porta, as multasenvergonham-se de alvejá-lo, as guerras, os tratados internacionais encolhem o rabo diante dele, em volta dele. O tempo, afiando sem pausa a sua foice, espera que o namorado desnamore para sempre.
Mas nascem todo dia namorados
novos, renovados, inovantes,
e ninguém ganha ou perde essa batalha.

Pois namorar é destino dos humanos, destino que regula
nossa dor, nossa doação, nosso inferno gozoso.
E quem vive, atenção:
cumpra sua obrigação de namorar,
sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante. De não ser. De estar, e nem estar.

O problema, Senhor, é como aprender, como exercer a arte de namorar, que audiovisual nenhum ensina, e vai além de toda universidade.
Quem aprendeu não ensina. Quem ensina não sabe.
E o namorado só aprende, sem sentir que aprendeu, por obra e graça de sua namorada.

A mulher antes e depois da Bíblia
é pois enciclopédia natural ciência infusa, inconciente, infensa a testes, fulgurante no simples manifestar-se, chegado o momento.
Há que aprender com as mulheres
as finezas finíssimas do namoro.
O homem nasce ignorante, vive ignorante, às vezes morre
três vezes ignorante de seu coração e da maneira de usá-lo.

Só a mulher (como explicar?)
entende certas coisas que não são para entender. São para aspirar
como essência, ou nem assim. Elas aspiram o segredo do mundo.

Há homens que se cansam depressa de namorar, outros que são infiéis à namorada.
Pobre de quem não aprendeu direito, ai de quem nunca estará maduro para aprender, triste de quem não merecia, não merece namorar.

Pois namorar não é só juntar duas atrações no velho estilo ou no moderno estilo, com arrepios, murmúrios, silêncios, caminhadas, jantares, gravações, fins-de-semana, o carro à toda ou a 80,
lancha, piscina, dia dos namorados, foto colorida, filme adoidado,rápido motel onde os espelhos não guardam beijo e alma de ninguém.

Namorar é o sentido absoluto
que se esconde no gesto muito simples, não intencional, nunca previsto, e dá ao gesto a cor do amanhecer, para ficar durando, perdurando, som de cristal na concha ou no infinito.

Namorar é além do beijo e da sintaxe, não depende de estado ou condição. Ser duplicado, ser complexo, que em si mesmo se mira e se desdobra, o namorado, a namorada não são aquelas mesmas criaturas que cruzamos na rua.
São outras, são estrelas remotíssimas, fora de qualquer sistema ou situação.
A limitação terrestre, que os persegue, tenta cobrar (inveja)
o terrível imposto de passagem:
"Depressa! Corre! Vai acabar! Vai fenecer! Vai corromper-se tudo em flor esmigalhada na sola dos sapatos..."
Ou senão:
"Desiste! Foge! Esquece!"
E os fracos esquecem. Os tímidos desistem.
Fogem os covardes.
Que importa? A cada hora nascem
outros namorados para a novidade
da antiga experiência. E inauguram cada manhã (namoramor) o velho, velho mundo renovado."

"Aos Namorados do Brasil"- CDA

...E então???
Mudaram ou não?

...Beijo pra você...

1:35 PM  
Blogger Denise Sammarone said...

Caraca!

11:38 AM  
Anonymous Anônimo said...

Todo mundo deveria ter esse poema na carteira...
O beijo viria com certeza...
E as mudanças todas também...
Sorte aos inspiradores do vizionário...

9:43 PM  
Blogger Mariana Sanchez said...

aconteça o que acontecer, eu nunca esqueço o teu aniversário.
(feliz cumpleaños, que nunca lhe falte essas quatro coisas fundamentais: inspiração, amigos, tempo pra aproveitar tudo isso e sabedoria para saber como fazê-lo).
abraços desde a província dos pinheirais

4:29 PM  
Anonymous Anônimo said...

Tinha que ser mais curtinho.


Álvaro Santos.

12:55 AM  

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