22 novembro 2005

Mundana

Quando todo teto da igreja se espatifou no chão ele quase conseguiu achar irônico. Viera até a Itália para conhecer a Capela Sistina, e pudera, contra todas as probabilidades, vê-la deitado no chão, por 20 minutos. Sem barulhos de turistas, sem flashs e comentários inteligentes. Sem guia. A poeira baixou lentamente, enquanto endorfinas cegavam seu corpo e mente. Não conseguiu ouvir nada depois da explosão. Seus sentidos voltaram rápido. A nitidez da sua visão lhe fez pensar em um milagre. A nitidez da sua visão lhe fez ver a morte rodeando, e rodeado de cadáveres, ninguém sobreviveu. Estava tragicamente vivo e com as pernas esmagadas por uma pesada viga. Seus sentidos e movimentos permitiram uma rápida olhada nas horas. Dez minutos. A poeira baixou lentamente, mas sua razão não o abandonava. Instinto de sobrevivência. Todos mortos. Precisava sobreviver. Quinze minutos. Estava estranhamente perto de tocar o dedo de Deus. 20 minutos. Sob a cultuada imagem, visualizava o toque que nunca foi dado. Achou que ouvia ambulâncias. Pensou na vida. Seria um milagre, o único sobrevivente. Entendera o que via. O toque seria dado, finalmente. Os bombeiros chegavam. Quando todo o teto da igreja se espatifou no chão, ele quase conseguiu achar irônico.